quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

entrevista: Jorge ben jor



Jorge Ben Jor tem uma história única dentro da música popular brasileira. Dono de uma sonoridade inconfundível, o carioca, nascido em Madureira, balançou o País ao misturar livremente soul e funk norte-americanos com influências árabes e africanas.
Autodidata, Ben Jor desenvolveu uma maneira particular de tocar violão. A batida percussiva e cheia de suingue contagiou artistas e público. “Sempre procurei fazer música ao meu estilo. E misturei essa experiência com o que havia de melhor da música. Quando comecei a Bossa Nova, o estilo não estava tão na moda. Ouvia o João Gilberto, que tocava de modo tão coloquial e único. Ele foi meu ídolo e ainda é. Ele faz parte da minha mistura musical”, revela o compositor.
Assim como o mestre João Gilberto, Ben Jor desenvolveu uma estética revolucionária e influenciou gerações com o seu violão (de Skank a Marisa Monte). Logo em seu primeiro disco, Samba Esquema Novo (1963), mudou a levada do samba com uma batida que trazia um pouco do rock e da Bossa Nova.
“O meu samba não tem uma leitura definida. É um samba, mas não é. Quando comecei, os músicos cariocas que tocavam samba não tinham uma leitura da minha batida. O meu primeiro disco foi gravado com a banda de
jazz Meirelles Copa. Esses foram os únicos músicos que conseguiram fazer uma boa leitura
da minha música”, relembra o cantor.
As composições inclassificáveis também ajudaram a colocar o carioca entre os medalhões da MPB, que contam com nomes dos seus contemporâneos Gilberto Gil, Caetano Veloso, Milton Nascimento e Chico Buarque.
Aos 55 anos de carreira (a idade é um dos mistérios que cercam o artista), o cantor já gravou 33 álbuns e transitou pelos principais movimentos musicais como Bossa Nova, Jovem Guarda e Tropicalismo. Ben Jor tem uma carreira consagrada internacionalmente.
“Procuro fazer um ‘Som Universal’. Ele foi inventado pela marcha e pulsa no compasso do caminhar. É o seu andar, o seu tempo, o seu passo, é o dois por dois. O rock europeu vem dele. Nosso ritmo aqui é dois por quatro, é diferente. Mas também é preciso fazer uma letra que caia no gosto de todo mundo. Modéstia à parte, consegui fazer uma letra que é universal até hoje: Mas Que Nada toca no mundo inteiro e todo mundo canta. Alemão canta, japonês faz perfeitamente. Tenho que achar mais uma letra assim. Zazueira quase chegou lá.”
Assim como João Gilberto, você é um artista que criou um estilo próprio e um jeito diferente de tocar dentro da MPB. Como foi a construção dessa identidade musical?
O que foi determinante para mim foram os conselhos que recebi dos meus pais, que no início não queriam que
eu trabalhasse profissionalmente com a música. Além disso, outros conselhos que também recebia do meu irmão, Hélio. Ele sempre me dizia: ‘Se você quiser seguir profissionalmente precisa ouvir esse disco’. Foi então que conheci a música de Miles Davis, o que foi determinante na minha formação musical.
Como o menino que queria ser jogador de Futebol virou músico?
Joguei Futebol nas categorias de base do Flamengo. Eu já fazia música desde a escola, escrevia letras, sem melodia. Porque meu pai foi compositor, teve gravadas três músicas de Carnaval, com parceiros. Meu pai tinha amigos que
também faziam parte do Salgueiro. Sempre teve música em casa, meu pai e minha mãe se conheceram
na Gafieira Elite, dançaram muito na Estudantina.
Como você vê a renovação do seu público e como é encontrar gerações diferentes na plateia?
Eu não sei detectar essa lógica, mas sei que meu trabalho se mantém atual com as novas gerações. Um professor me disse que, nas aulas dele, minhas músicas são as preferidas dos alunos. São cabeças pensantes novas, cheias
de futuro, e que estão querendo saber das minhas histórias, acham que elas são atuais. Vejo a garotada de
14, 15, 16, 17 anos, querendo saber como toca a música tal, o que quer dizer aquela letra, que guitarra é essa?
Isso não tem preço. E hoje em dia a turma está assim, né? Querem saber de tudo.
Você é um compositor também regravado por diversas gerações de artistas. Seu Jorge, Fernanda Abreu, Leandro Lehart, Marisa Monte, Mano Brown são alguns exemplos. Qual a importância
das regravações na sua carreira?
Fico muito feliz de saber que grandes artistas nacionais e internacionais gostam das minhas músicas e as regravam.
Como você bem disse Fernanda Abreu, Paralamas do Sucesso, Mano Brown, Gil, Caetano, Black Eyed
Peas. Só posso agradecer.
É diferente fazer um show para um público de Carnaval? O que você preparou de especial
para o evento?
Vamos tocar para animar a festa. Vou apresentar com a Banda do Zé Pretinho o show que está correndo
todo o País neste momento. Modéstia à parte, um show dançante, no qual tocamos músicas como
Banda do Zé Pretinho, País Tropical, Taj Mahal, W/Brasil, entre outras.
Suas músicas são verdadeiros hinos de festas e no Carnaval elas ganham ainda mais força. Como é
cantar músicas que todos cantam e se divertem?
Eu canto a alegria e canto o amor.
Você sempre compõe música feliz. Por quê?
Minha música pode soar triste, mas ela sempre tem um final feliz. Sempre proponho isso. A gente tem que
falar que tristeza existe, mas ela pode acabar e vir a felicidade. Já vi gente chorando em meus shows. Era
de alegria. Ou de relembrar alguma coisa gostosa, uma época que passou, uma pessoa. As histórias que conto são as que as pessoas gostam de ouvir.
Você tem músicas inéditas, está gravando algo novo?
Estou sempre compondo e quem sabe novidades virão por aí.

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