quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Skank - uma das melhores bandas BR de todos os tempos


fonte: movimentomusical

“Se eu fosse uma banda, seria o Skank.” É com esta frase que Erasmo Carlos costuma se referir aos mineiros.  É no mínimo curioso notar que o grupo não é reverenciado por aí como muitos até da mesma época e que não tiveram o mesmo nível de sucesso e, principalmente, a mesma qualidade musical. Skank é uma das poucas bandas que não precisaram ser cover de si mesmo para seguirem no topo. Na minha opinião, não deve nada para a geração de 1980, que tem Titãs, Paralamas, Legião, Barão e outros. Ao longo da carreira, a banda desfilou por diversos estilos como o ska, reggae, pop rock e até mesmo o rock’n roll.



Um dos motivos para essa afirmação é, sem dúvidas, a presença do vocalista Samuel Rosa, aniversariante de hoje, 50 anos. O cantor é símbolo dessa versatilidade. O fácil encaixe de voz em diferentes gêneros musicais é uma das características mais interessantes e admiráveis de Samuel.  A voz quase falada de “Jackie Tequila” e “Te ver”,  mais doce em baladas como “Sutilmente” e “Esquecimento”, ou até mais rasgada e rockeira como “Chão” e “Os ofendidos”. Ainda podemos citar o projeto recente com Lô Borges. Samuel se encaixa brilhantemente em músicas como “Equatorial” e “Trem de doido”. Uma parceria e tanto. Lô é um dos maiores compositores da história do país e Samuel está entre os melhores que surgiram nos últimos 20 ou 30 anos.
No grupo mineiro Samuel é o compositor de praticamente todas as harmonias, enquanto as letras são feitas por letristas renomados como Chico Amaral e Nando Reis.  Sua versatilidade na guitarra não é algo virtuoso, não chama a atenção dos mais leigos, aqueles que se impressionam como um mero solo. Mas é dali que sai toda a ideia do que é o Skank e, é claro, com um apoio fundamental de bons instrumentistas de metais que acompanharam a banda durante sua trajetória. Analisando um pouco a harmonia do Skank ao longo da carreira, não é descuido afirmar que a banda é uma das melhores em fazer transição de estilo musical. No primeiro cd, de muitas covers e no segundo, “Calango”, as músicas do Skank que se destacam são reggaes, muitas vezes com 2 acordes: “Te ver”, “O beijo e a reza” e “Jackie tequila” são os melhores exemplos. No álbum seguinte, o “Samba Poconé”, a fórmula se repete com “Garota nacional”, mas já há uma progressão harmônica bem maior em “Tão seu” e Samuel alavanca um dos seus primeiros riffs, adorado por boleiros e fãs, a introdução de “É uma partida de futebol”. Ao vivo, os dois primeiros aqui citados(do Samba Poconé) ficaram mais dançantes, mais ska do que reggae. Começava aí uma transição, de onde esperaríamos músicas até similares em acordes, mas com um ritmo mais acelerado. “Eu disse a ela” e o super hit “Saideira” são reflexos desse andamento mais dançante. De brinde viria a primeira balada ao violão, “Resposta”, uma pegada folk e com as primeiras dissonâncias da banda. É óbvio que aí começou outra mudança. O álbum seguinte, “Maquinarama”, trouxe baladas poderosas como “Ali”, “Canção Noturna”, “Três lados” e “Balada do amor inabalável”(essa com progressão mais similar a músicas mais do início da carreira). A diferença? Nessas baladas a levada principal é na guitarra, mais presente a partir daí. A música homônima do álbum e “Rebelião” mostraram mais distorção. Era a veia rockeira de Samuel pedindo passagem na banda. E não só isso, as harmonias começavam a ficar mais complexas, com mais acordes, mais variações. E isso tudo veio no álbum seguinte, “Cosmotron”. Este é considerado o melhor álbum da banda por muitos críticos. Além disso, o próprio Samuel demonstra um afeto maior por essa obra. Fica difícil negar isso. O álbum tem algu mas músicas bem cara de mpb, aquelas que tocam todos os dias na MPB.fm. É o caso de “É tarde”, “Pegadas na lua” e a consagrada “Amores imperfeitos”. Além disso, veio ali a melhor harmonia da carreira da banda, mais para Clube da Esquina, “Dois rios”(primeira parceria de Samuel com Lô Borges).  A música é completa: dissonâncias, letra maravilhosa, um refrão encantador e uma linha de voz das mais belas.  A veia rockeira de Samuel aparece em “Os ofendidos” e “Supernova”. As baladas na guitarra seguem e dão espaço para duas canções belíssimas, “Formato mínimo” e “As noites”. E de quebra, o pop rock super aclamado da banda, “Vou deixar”.  Toda a transição que a banda fazia do fim dos anos 90 para 2000 se concretiza numa obra sensacional. Pela primeira vez o Skank não deixava tanta brecha para imaginarmos o que vinha por aí. No “Carrossel”, álbum seguinte, a banda decide explorar o pop rock, talvez impulsionados pelo sucesso avassalador de “Vou deixar”. Desta fórmula surge “Mil acasos” e, em linha um pouco diferente, surge “Uma canção é pra isso”, “Eu e a felicidade”. Na mesma linha de balada, e até com certa “cara de mpb”, surge “Seus passos”. O Skank chegava a um momento no qual já tinha bebido das mais diferentes fontes: reggae, ska, pop rock e rock. O que fazer para surpreender os fãs e não soarem repetitivos até para satisfazer o lado compositor? Foi aí que surgiu uma sacada genial de Samuel: um dueto. Com pegada mais folk, “Ainda gosto dela” foi uma forma de gerar surpresa no público. A música foi muito bem recebida pela crítica e fãs. E daí reparamos uma marca curiosa de Samuel: um certo gosto pessoal pelo capotraste na quarta casa do violão. Não é algo inédito, no próprio Skank a canção “Formato mínimo” é executada na mesma região, porém na guitarra.  No entanto, é curioso o Skank emplacar hits em sequência com o capo na mesma casa. Nesse mesmo molde surge “Sutilmente”, talvez a balada mais aclamada do grupo nos últimos anos. A explosiva em metais, “Para-raio”, mostra esse bom entrosamento entre os músicos de sopro da banda e Samuel. “Chão” é sensacional. Guitarra típica de rock’n roll com um toque de eletrônico, uma linha mais Stones. “Noites de um verão qualquer” trazem ares nostálgicos para os fãs.  Depois de tantas experimentações, o Skank começava a se repetir. Isso acontece na carreira de qualquer músico, mas inovar não é sinônimo de qualidade e repetição não significa a ausência de.  E foi aí onde rolou um acerto, não de Samuel, mas da banda toda. Um pequeno hiato entre os discos. A banda chegou a lançar “De repente” e “Presença”. Destaque para a primeira, um reggae típico. Em 2014 chegou o álbum da atual turnê. A balada “Esquecimento” é o grande destaque do disco. Aos mais curiosos, reparem no capo na quarta casa do violão.  Da mesma forma de “Sutilmente”. Esse cd é como um resumo das obras do Skank. Nada inovador, mas agradando aos mais diferentes fãs. Em “Alexia” volta como tema o futebol. Duetos para os fãs: “Aniversário”(com Lia Paris) e “Galápagos”(com direito a Nando Reis na voz). A segunda é uma obra belíssima, que mostra como Samuel consegue, em poucos acordes, nos tocar com reggaes um poucos mais melódicos, além da letra sempre sensacional de Nando Reis(na minha opinião, o melhor letrista em atividade no Brasil). Assim como ocorrera nos álbuns mais recentes, não poderia faltar o pop rock: “Do mesmo jeito”(curiosamente, outra música com o capo na quarta casa). Os últimos anos tiveram uma agenda do Skank menos robusta, o que deu espaço para que Samuel participasse de outros projetos e mostrasse toda sua capacidade musical. Fora do grupo o cantor pôde mostrar a parceria afiada com Lô em “Lampejo” e “Horizonte vertical”.  Duetos covers legais como “Pra curar essa dor”(Heal the pain – George Michael, dueto com Fernanda Takai), “As curvas da estrada de Santos”(música famosa na voz de Roberto Carlos, cover feito com Pitty). Participou de “Grilos”(Marina Machado) e  recentemente de “Rotina”, música do novo álbum de Flávio Renegado, artista da boa cena independente mineira. Compôs “Simplesmente(com letra de Chico Amaral), música gravada pela própria Marina e por Celso Lira. É com este vasto currículo que o músico chega aos 50 anos. Toda essa trajetória do Skank foi possível graças à versatilidade de seu líder(e vale citarmos o ótimo nível dos instrumentistas na banda também). Samuel soube se recriar, surpreender e até se repetir ao longo da carreira. Pouco midiático, considerado “jeca”, ele não tem tatuagem, não tem pose de rockeiro e nem precisa disso. Sua competência o consolida como o maior músico que surgiu em nosso país dos anos 1990 para cá.

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